Monge João Maria – importante figura da Guerra do Contestado

06/04/2020 15:47

Chega em 1851 na região do contestado (antiga Vila de Curitibanos), o monge João Maria D’Agostin, curandeiro, eremita, alquimista, profeta, místico e profundo conhecedor das ciências ocultas. Tal figura enigmática realizou o caminho dos tropeiros até chegar ao sul do país, ficando conhecido como figura messiânica. O momento histórico que o país vivia, com a chegada dos imigrantes europeus em terras já ocupadas pela população nativa, fez com que este povo empobrecido se sentisse abandonado pelas autoridades. A presença do monge era vista como referência religiosa por essa populações relativamente isoladas.

Muitos autores sugerem que outro João Maria teria surgido entre 1886 e 1893, e que as figuras que são conhecidas até hoje do monge teriam sido feitas dele. A história tem muitas variantes, mas a linha principal é de que o profeta teria tido um sonho, de que deveria sair pelo mundo penitenciando-se e pregando. O início do Movimento do Contestado nesse mesmo período, numa luta contra o poder econômico e político, utilizou o nome do monge João Maria como símbolo do movimento. Se foi um padre, ou muitos conhecidos pelo mesmo nome que colaboraram para a visão da imortalidade e reencarnação do monge, o fato é de que sua figura atrai peregrinos até os dias de hoje. 

Devido a pandemia de covid-19, em que se faz necessário o isolamento social, as incertezas e medos permeiam as mentes dos moradores da região do Contestado. No entanto, imagens do monge João Maria circulam pelas redes sociais, trazendo conforto para aqueles que creem no santo e oram para ele. A figura do “O monge que cura”, como em 1912, traz novamente conforto para a população que passa por dificuldades. O retrato compartilhado em um grupo do Facebook da cidade de Curitibanos recebeu mais de 500 curtidas e uma centena de comentários dos seus fiéis. Como exemplo, comentários como o de Rozana Lima*, que pede: “Protegei-nos São João Maria” são os mais comuns. A crença no monge permanece viva na memória dos moradores da região e se manifesta, principalmente, nos momentos de adversidade.

*Comentário de uma cidadã no post “João Maria o monge que cura” retirado da página Mercadão de Curitibanos no Facebook.

Figura do Monge João Maria compartilhada no grupo do Facebook.

Fonte: Post realizado no grupo privado Mercadão de Curitibanos no Facebook disponível em: <https://www.facebook.com/groups/638473372930818/for_sale_search/?forsalesearchtype=all&query=monge&referral_surface=direct_link&availability=available>.

O Monumento ao Monge João Maria, construído no período de 1983 a 1989 na cidade de Curitibanos/SC, recebe devotos e religiosos, que vem buscar a bênção do santo. A figura, que trouxe esperança e inspiração ao movimento dos camponeses, ainda é cultuado e mantém sua importância imortalizada no imaginário popular dos moradores do Vale do Contestado.

Monumento ao Monge João Maria, no bairro de Água Santo no município de Curitibanos/SC. Fotografia tirada por Daniel Granada, coordenador do projeto.

Imagem do Monge João Maria presente no monumento. Fotografia tirada por Daniel Granada, coordenador do projeto.

Referências

WELTER, Tania. O Profeta João Maria continua encantando no meio do Povo: Um estudo sobre os discursos contemporâneos a respeito de João Maria em Santa Catarina. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2007. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/imagens/dossies/contestado/trabalhos/WELTERTania.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2020.

MONUMENTO ao monge João Maria. Alma Cabocla Proposta de Desenvolvimento Turístico Cultural. Blogger. Curitibanos, 2014. Disponível em: <http://contestadoalmacabocla.blogspot.com/2014/10/monumento-ao-monge-joao-maria.html>. Acesso em: 06 abr. 2020.

Texto por Karen Wesseler Jung.